sábado, 1 de dezembro de 2012

As elites locais e os directórios partidários




Até 1989 o cargo de Presidente de Câmara, era tido entre a classe política, como um lugar destinado a políticos das chamadas estruturas intermédias dos partidos. As figuras de primeira linha, não viam as autarquias como "suficientemente dignas" e importantes para almejarem presidire-lhes.
Com a candidatura, vencedora, em 1989 de Jorge Sampaio, então Secretário-geral do PS, à Câmara Municipal de Lisboa, com reeleição em 1993 e posterior eleição para a Presidência da República, a forma como as figuras de primeira linha encararam as candidaturas autárquicas alterou-se.
Desde então, muitas foram as personalidades políticas que se candidataram à presidência de Câmaras e Assembleias Municipais. Inclusive o actual primeiro ministro, que se candidatou, embora tenha perdido, à Câmara Municipal da Amadora.
Em Sintra, também aconteceu o mesmo com a chegada de Edite Estrela em 1993, que para além de já na altura ser deputada, era uma figura televisiva bem conhecida, com os programas sobre língua portuguesa.
A partir daí, quer PS, quer PSD nunca deixaram de apresentar, figuras com peso político e ou mediático à Câmara de Sintra.
E este facto, acabou por tornar-se quase um processo natural, quando se discutem nomes de possíveis candidatos à Câmara de Sintra. Talvez assim seja, por Sintra ser um concelho muito importante e a que fica bem presidir.
A necessidade de apresentar figuras com peso político e importância mediática, impediu que surgissem candidaturas protagonizadas por agentes políticos locais.
Foi caso disso a candidatura gorada do Vereador Domingos Quintas (PS)em 2009 e voltou a acontecer em 2013 com a rejeição pela Distrital do PSD de Lisboa, da candidatura do Vereador Marco Almeida.
Este por não ter sabido, ou não ter desejado, limar as arestas, que sempre o separaram das outras famílias políticas do PSD de Sintra, acaba de apresentar a sua candidatura (como independente) a Presidente da Câmara de Sintra, depois de o PSD ter escolhido o Vice-Presidente do partido, Pedro Pinto.
Marco Almeida demonstra coragem, porque para além de romper com o partido onde sempre militou, arrasta nesta decisão, militantes e autarcas do PSD que arriscam muito ao demonstrarem estar a apoiá-lo.
Chegados aqui, há quem se pergunte, se o Vereador Marco Almeida, tem a coragem, de como independente, levar a candidatura até ao fim, ou se vai ceder a pressões do partido e "ao conforto" de ser número dois na lista de Pedro Pinto, ou tentar uma qualquer solução mitigada, que em nome do consenso e do interesse partidário o leve a desistir da candidatura.

Se tal acontecesse, seria a completa negação daquilo que o Vereador Marco Almeida diz serem as suas características "coerência e credibilidade".
Mas mais do que isso, uma qualquer alteração, à decisão que hoje anunciou, representa mais uma vitória dos directórios partidários, sobre os agentes políticos locais e será vista como uma traição a todos os que tiveram a coragem de o apoiar e uma machadada em quaisquer futuras iniciativas políticas de génese local.