quinta-feira, 24 de março de 2011

Assembleia Municipal Temática – Saúde

Realizou-se ontem uma reunião da Assembleia Municipal, desta vez com uma ordem de trabalhos, exclusivamente dedicada à temática da saúde no concelho de Sintra, pela importância que as questões da saúde têm neste momento para o concelho.

O formato de ontem da Assembleia Municipal, especialmente “desenhado” para acolher a participação de entidades convidadas, para debater o assunto, ARS e Administração do Hospital Amadora Sintra, foi insuficiente para atrair os sintrenses para a reunião.

Portanto há que olhar para o que aconteceu ontem e procurar obter uma explicação, para a nula participação dos cidadãos, à excepção daqueles que lá foram, instrumentalizados pelos partidos políticos do costume.

A reunião terá sido insuficientemente divulgada?

Os cidadãos não se interessam pela actividade municipal, principalmente pela da Assembleia Municipal?

Os cidadãos atribuem uma credibilidade nula aos políticos, mesmo aos que governam mais perto deles?

A agenda política e mediática de ontem, estava intensamente focada no parlamento, mas num país onde há quem peça a demissão de toda a classe política, deixaram os cidadãos de Sintra de ir à Assembleia Municipal, para irem assistir ao debate do PEC e ver o anúncio de demissão do Primeiro-ministro?

A questão centra-se mais no tipo de participação e intervenção cívica que por estes tempos, vai grassando no país.

Os portugueses descontentes, legitimamente, com anos de sucessivos maus exemplos dados pela classe política, foram-se afastando das instituições democráticas e foram dando sinais disso, nomeadamente pela não participação nos sucessivos actos eleitorais.

Centraram-se cada vez mais, na sua vida pessoal e na procura da resolução dos seus problemas próprios e como nunca sentiram que o sistema político estivesse em causa, foram “deixando andar”.

Com a chegada do fenómeno das redes sociais, o descontentamento encontrou vários espaços “cómodos” para se espalhar, basta o facilitismo de clicar num “gosto” e pronto está feito.

Depois organiza-se uma grande manifestação, onde uns “artistas” numa acção de marketing para proveito próprio, cantam umas músicas “contra a reacção”, bebem-se umas cervejolas e desmobilizam para ir ver as fotos da “manif” nas redes sociais.

Fomentar a ideia que é possível participar, de forma “intermitente” na modificação da realidade política e social é um erro grosseiro, que apenas pode ser compreendido pela leveza com que hoje em dia, se pensam os assuntos do país.

Procurar mudar, fora das instituições democráticas, na rua, como agora é moda dizer, é uma utopia que não nos leva a lado nenhum.

Isto tudo para dizer, que os cidadãos não se podem demitir de opinar, de participar, mas onde a sua opinião tenha valor, possa construir correntes de pensamento e de acção, ou seja nas instituições democráticas, partidos, associações cívicas, clubes de reflexão, etc.

Mas não podemos descurar, outro facto da Assembleia Municipal de ontem.

Tão mau, ou pior que a não participação de cidadãos, foi a pressa com que o Presidente da Assembleia Municipal de Sintra, Ângelo Correia, conduziu os trabalhos, ao ponto de não dar tempo à Câmara Municipal para participar no debate.

É verdade que o pupilo de Ângelo Correia, Passos Coelho, podia ficar ontem, teoricamente, mais perto de ser primeiro-ministro, com a demissão de José Sócrates, mas o que era mais importante na altura, a condução adequada de uma Assembleia Municipal, para a qual foi eleito pelos cidadãos de Sintra, ou dar primazia aos seus interesses partidários?

Com exemplos destes, é natural que o desinteresse dos cidadãos aumente e esteja aberto o caminho à leveza de raciocínio e à demagogia.

1 comentário:

  1. Enquanto cidadão que, durante muitos anos, procurei intervir nas sessões de Câmara e Assembleia Municipal, não poderia deixar de colocar umas palavras que serão breves para não cansar os leitores. Para dizer tudo o que sinto ocuparia imensas páginas e dias. No meu modesto blogue http://retalhos-de-sintra.blogspot.com como lá digo, irei fazê-lo em pedaços.

    Depois de ter assistido a sessões muito pouco dignificantes, na minha opinião, com laivos de pouca elegância por parte de altas figuram, depois de ver assembleias a decorrer e um presidente de Câmara misturar o clube da sua eleição com as intervenções, ou andar num cá e lá para saber resultados da bola, ou ver chamar um alto responsável com estalos de dedos, comecei a ficar indignado, mesmo enojado.

    Por outro lado, apercebendo-me de que - às nossas (e minha) intervenções públicas - era dedicada a mais indigna desatenção, por quase todas as partes, resolvi um dia, com uma tristeza nunca manifesta, deixar de frequentar tais órgãos.

    Posso apresentar votos e desejos das populações, que foram entregues quer na Câmara quer na Assembleia Municipal. Se não foram para o lixo não andarão longe.

    As Sessões Públicas de Câmara e de Assembleia Municipal não são muros para desbafos e irmos embora. Obrigam a que os responsáveis nos respeitem, tal como nós os respeitamos a eles.

    A nossa participação, gostem ou não, tem o direito a ser apreciada devidamente, porque encerra - sempre - uma intenção de nobreza na apresentação de questões colectivas.

    Com gente como a que temos, não iremos a lado nenhum, infelizmente.

    Cumprimentos,

    Fernando Castelo

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