segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Linha de Sintra perde passageiros


CP perde milhões de passageiros, a maioria na Grande Lisboa

Apesar da crise, os portugueses continuam a preferir o automóvel. Por pura opção, por falta de alternativa, ou por resposta à aposta governamental nas estradas e auto-estradas, o certo é que a CP perde clientes. Foram menos 4,4 milhões de pessoas que, entre 2008 e 2009 compraram bilhetes de comboio ou passes naquela empresa. Uma tendência que se agravou no primeiro semestre deste ano, com a transportadora pública a atrair menos 5,8 milhões de passageiros do que em 2008.

A queda acontece quando são cada vez mais os passageiros a viajar no Alfa Pendular e nos Intercidades. E quando a CP Porto não pára de crescer, com cada vez mais gente a usar os suburbanos na periferia da Invicta, região onde, com uma ligeira excepção, provocada pela quebra de clientes da STCP, tem visto aumentar o número de utilizadores do transporte público.

Quem está a perder gente é a CP Lisboa e a CP Regional. Porquê? "Temos estado a assistir a um crescimento desenfreado das áreas urbanizadas, o que faz com que muita gente deixe de ter acesso fácil às estações", diz José Manuel Viegas, especialista em Transportes. Os concelhos da primeira coroa de Lisboa (Amadora, Oeiras e Loures) perderam população, mas quem de lá sai não vai para dentro da capital, mas sim para mais longe.
"Independentemente de questões de qualidade de serviço da CP, colocam-se questões de urbanização", diz este professor catedrático do Instituto Superior Técnico. Os antigos utilizadores da Linha de Sintra e de Cascais, e alguns da da Azambuja (que serve estações do concelho do Loures), agora vão de carro para Lisboa e não sobre carris porque já não podem ir a pé apanhar o comboio ou porque não têm estacionamento junto às estações. Em contrapartida, as novas acessibilidades rodoviárias são um convite irrecusável para se pegar no carro e ir a acelerar desde a periferia até aos congestionamentos de entrada da cidade.

"A CP sozinha não consegue. É pôr as autarquias a pagar os custos. Elas hoje só têm as receitas das urbanizações. O pagamento das indemnizações de serviço público é feito pelo Orçamento do Estado. Se 50 por cento desse custo tivesse de ser pago pela autarquias, algumas decisões de urbanizações, se calhar, não teriam sido as mesmas". Ou seja, isto só acontece porque é o Governo nacional a pagar a factura, conclui José Manuel Viegas.

Uma forma de minimizar estes problemas é o rebatimento às estações deixar de ser feito por autocarros grandes, por vezes articulados, que levam muita gente, mas têm dificuldade em mover-se no trânsito e demoram muito tempo. Em alternativa, deveriam ser usados autocarros pequenos e com elevada frequência, para alimentar as estações.

Manuel Tão, investigador em Transportes da Universidade do Algarve, corrobora estas opiniões e acrescenta que o forte investimento nas redes viárias tem sido acompanhado de um "subinvestimento cumulativo" na ferrovia. Ou seja, o caminho-de-ferro sofre as consequências de anos e anos de não-investimento em grande parte da sua rede, agravado por um subinvestimento conjuntural (decisão recente de travar as obras de modernização na rede convencional).

"Nestes últimos cinco anos houve um investimento sem precedentes em infra-estruturas rodoviárias", diz este especialista. E enumera: duplicação do IP5 e sua conversão na A25, conclusão da A23, conclusão da A17 mais a A29 (segunda auto-estrada Lisboa-Porto), inauguração da A24, da A11 e da A7, conclusão da segunda auto-estrada Sintra (Alcabideche)-Lisboa(Pontinha).

"Mesmo que todas venham a ter portagem, o que poderá levar a uma transferência para o modo ferroviário, o que é certo é que nos últimos cinco anos a estrutura rodoviária de Portugal equiparou-se à de um país como a Alemanha". Logo, conclui Manuel Tão, não surpreende a reduzida procura pelos serviços da CP.

Fonte: Texto e fotografia Jornal Público

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